sexta-feira, abril 21, 2006 A Cidade de Mármore Não havia estradas, caminhos ou trilhas. O bosque outonal, com suas árvores esparsas mas numerosas, adquiria uma coloração dourada com as folhas que caíam ao pôr do Sol.Caminhei por entre as árvores até encontrar uma cabana. Em momento algum o bosque era fechado o suficiente para tapar a visão do esperançoso céu e do corajoso Sol. Havia um camponês, morador da cabana de madeira. Não me lembro de ter-lhe perguntado, mas ele me disse para seguir rumo ao norte. Assim o fiz. Em pouco tempo de caminhada, cheguei às magníficas muralhas da Cidade de Mármore. Observei o indestrutível portão prateado, que jamais se abria. Não, não existem formas de se abrir o portão ou adentrar os limites da Cidade. A única maneira de atravessar o portão é pela vontade daquela que contruiu e habita a Cidade. E, por meio da vontade da Sacerdotisa, encontrei-me dentro das muralhas. A Cidade toda é, realmente, de mármore - as casas que se fundem às muralhas, as ruas pavimentadas com branco. Todas as coisas que lá se encontram ou lá foram criadas brilham com um inestimável valor, suficiente para cegar eternamente com ganância todos aqueles que não estão preparados para presenciar a magnitude de sua pureza e complexibilidade. Além disso, a Cidade emana poder e magia. Porém, grande parte de seu valor provêm exatamente da capacidade que possui de defender a si mesma, do poder que brota de suas fundações. Este poder mantêm toda a Cidade aquecida e pura, mas ainda assim ela é feita de mármore: fria e dura. Não me atrevi a abrir a porta de qualquer das casas e templos que encontrei, pois eu sentia o chamado que chegava a mim pela rua branca, guiando-me rumo ao centro da cidade. Caminhei por algum tempo nas belas ruas que se curvavam suavemente em ângulos quase imperceptíveis e cruzavam-se em fantástica engenharia. Em determinado momento cheguei a um estranho jardim. Das ruas que percorriam a cidade, apenas uma atravessava o jardim. E o chamado, agora mais forte, dizia-me para não temer e seguir em frente. Assim que dei o primeiro passo para dentro do jardim, sua estranheza tornou-se medo. Enquanto o observava de fora ele parecia ser escuro, sombrio, pantanoso. De dentro, mesmo o Sol deixava de brilhar. As plantas, em suas configurações alienígenas, reproduziam sobre mim uma ameaça muda e fantasmagórica, que me acompanhou todo o caminho até o outro lado. Caminho este que não era longo, mas não fosse o chamado a me encorajar, eu não teria sido capaz de percorrê-lo. As densas plantas aberrantes e escuras, a ausência de calor e do Sol, a terra negra e maligna retratavam algo que, apesar de ser natural, seria vilanizado em todos os mundos as quais já tive oportunidade de visitar. Ao alcançar a saída, porém, o Sol novamente brilhou sobre mim e aqueceu o ar, fazendo-me compreender a função da existência do jardim. Ele é o último e mais poderoso sistema de defesa deste mundo. Enquanto as magníficas muralhas brancas impedem a entrada de estranhos, e o indestrutível portão mantêm os conhecidos e habitantes - temporários ou não - do lado de fora da cidade, permitindo apenas a entrada daqueles dignos de confiança; o jardim é o teste final, o desafio que pode ser superado apenas com a ajuda da Sacerdotisa que o mantêm. O jardim protege os segredos e as verdades mais profundas deste mundo, não em grandes bibliotecas mas em um humilde templo. Este mundo é intimamente relacionado ao em que vivemos todos, o Mundo Material, que alguns chamam de Realidade. Assim sendo, os segredos contidos além das muralhas e do jardim são segredos de ambos os mundos. As verdades lá descritas oferecem visões, lições, soluções sobre tudo o que vivemos. Muitas e muitas vezes já visitei a Cidade de Mármore e o Templo que se encontra além do jardim. Muito aprendi e, a cada jornada, retorno mais forte e sereno. Tenho consciência, porém, de que jamais serei capaz de perceber e interpretar todos os segredos e verdades que lá repousam, não importa quantas vezes eu estude dentro das paredes de mármore, sob o Sol dourado, sentindo o doce cheiro de dias passados. Um imenso agradecimento e parabéns à Sacerdotisa, que criou este mundo e nele reside, guardando eternamente os ensinamentos fundamentais que um dia a humanidade recordará. Espero que ela não se importe com a descrição tão detalhada de seu mundo nesta postagem. Obrigado por sempre tocar sua harpa para me guiar através do jardim. Esta é minha homenagem a você, que sempre me ajudou. Esta é uma pequena retribuição e agradecimento para tudo o que você me ensinou. Thousand womem at once... P.S.: Lembrem-se, meus amigos: não existe apenas uma Realidade. ::por Cavaleiro Sergio, o Augusto::14:58::[+]:: |